Você já ouviu falar nas criptomoedas? Tenho certeza que sim. Afinal, a trajetória de alta nas cotações de várias dessas moedas virtuais é impressionante. E isso, evidentemente, atraiu diversos investidores com o intuito de ganhar dinheiro rapidamente. Mas, afinal, o que são criptomoedas?
Isso tem feito com que surgissem dezenas de empresas e publicações financeiras “alertando” para essa “grande oportunidade”.
Naturalmente, eu comecei a ser questionado por aqueles que me seguem sobre o que são criptomoedas e se elas realmente são uma boa opção para quem quer investir.
Além disso, percebi que muita gente acredita que vai enriquecer rapidamente, pegando um “atalho” nessa onda. Isso tem me assustado bastante e me motivou ainda mais a escrever este artigo.
Por isso, quero responder aqui: o que são criptomoedas? Como elas funcionam? Será que são uma bolha financeira ou uma ótima oportunidade de ganhar dinheiro?
Parece interessante para você? Então continue lendo para descobrir o que há por trás das criptomoedas!
O que são criptomoedas? Será que elas serão o futuro dos sistemas monetários?
Apesar de seu nome causar certa estranheza para quem não está acostumado com os termos da internet, as criptomoedas nada mais são do que códigos virtuais que representam valores monetários.
Em outras palavras, são moedas como o real ou dólar, mas que não possuem um equivalente físico – como cédulas ou moedas de níquel. Elas existem apenas virtualmente, na web.
Isso, inclusive, é um dos fatos que preocupa investidores mais conservadores, já que, sem um lastro real e sem um sistema monetário regulador dessa moeda, fica difícil manter o controle sobre a sua emissão e constantes oscilações.
Em contrapartida, investidores mais arrojados veem, nessa liberdade, uma nova forma de sistema monetário para o futuro, com menos burocracia e com a ausência de intermediários.
Mas, sem dúvida, a maior inovação trazida pelas criptomoedas foi a blockchain – ou Protocolo da Confiança, que nada mais é do que uma base de dados compartilhados, em que a medida de segurança principal é a descentralização das informações.
Daí vem o termo cripto, do latim, que significa “codificado”: ou seja, uma “moeda codificada”.
E se você já ouviu falar em Bitcoin, Litecoin, Ethereum… São exemplos de criptomoedas. A diferença entre elas é que, assim como dólar, euro e real, cada uma tem a sua cotação e características.
Controvérsias à parte, antes de responder a você se criptomoedas são uma boa opção ou não, existem 3 fatos que você precisa saber antes de ler a minha resposta.
Vamos lá?
Os 3 fatos que você deve saber antes de comprar criptomoedas
Fato #1 – Criptomoedas não são uma forma de investimento
Isso mesmo! Não há como enquadrar esses ativos na definição clássica do conceito de “investimento”, de Benjamin Graham, que diz que:
“Uma operação de investimento é aquela que, após análise profunda, promete a segurança do principal e um retorno adequado”.
Veja bem: com criptomoedas, isso simplesmente não é possível. Realizar uma análise profunda do ativo, garantir a segurança do principal e buscar um retorno adequado são formas de se identificar um investimento que não se enquadram à realidade das criptomoedas.
Isso porque, diferentemente do mercado de ações, onde cada ação representa os resultados de uma empresa, analisada pelos seus fundamentos, as moedas – e eu me refiro a qualquer moeda ou até metais preciosos, como o ouro – o mesmo não acontece.
É impossível de se fazer uma profunda análise que vá além do fator “oferta x demanda”. Como o mercado é altamente volátil, não há qualquer garantia de que o valor investido estará protegido.
Portanto, pela definição clássica de investimentos, as criptomoedas não se enquadram nessa categoria.
E isso é ruim?
Não necessariamente. O que importa aqui é que você tenha isso em mente, para que não corra o risco de achar que está investindo, enquanto, na realidade, está especulando.
A diferença não se dá por um ser bom e outro ruim, mas sim pelo fato de que a especulação é uma operação de curto prazo, com foco no preço do ativo especulado em detrimento aos seus fundamentos.
Seu objetivo é gerar um resultado muito superior ao do mercado, assumindo riscos que podem comprometer todo o capital aplicado.
Fato #2 – A tecnologia por trás das criptomoedas é revolucionária
Um dos principais pontos favoráveis às criptomoedas é algo que já comentamos: a blockchain.
Eu não sou nenhum especialista em meios de pagamentos e segurança de transações financeiras, mas tenho que concordar que a blockchain parece ser uma tecnologia fantástica que veio para ficar.
E isso é ótimo! Podemos ter grandes – e positivas – mudanças em tempo real.
Entretanto, há um fato bem claro aqui: isso, por si só, não quer dizer que as criptomoedas sejam uma grande oportunidade.
Afinal, nos mercados financeiros há sempre uma diferença entre “preço” e “valor”. Será que o preço das moedas que utilizam essa tecnologia é um “preço justo”?
Veremos mais sobre isso em frente, mas antes vamos ao fato número três.
Fato #3 – Sim, as criptomoedas podem ser utilizadas como uma reserva de valor
Já ouvi algumas vezes as criptomoedas serem chamadas de “o ouro virtual”. Afinal, assim como o ouro, cada criptomoeda tem uma demanda finita, como no caso da principal moeda, o Bitcoin, que tem 21 milhões de unidades.
Ou seja, sabemos que não haverá uma grande inflação nesse mercado porque, a partir do momento em que as 21 milhões de unidades do Bitcoin forem criadas, a “mineração” de Bitcoin – o nome dado para a criação de novas unidades da moeda – vai parar.
E isso vale para outras criptomoedas em ascensão, ou seja, logo teremos um mercado total bem claro e, portanto, um potencial de uso delas como reserva de valor.
A pergunta que não quer calar: seriam as criptomoedas uma boa oportunidade?
Depois de tudo o que tratamos aqui, você deve estar pensando:
“Criptomoedas não são um tipo de investimento, e sim uma forma de especular. Tem uma grande tecnologia por trás, que pode mudar o mundo e além de tudo isso podem ser usadas como uma reserva de valor. Então eu devo comprar?”
Por questões legais, eu não posso fazer uma recomendação clara sobre compra ou venda de qualquer tipo de ativo, já que essa é uma atribuição dos analistas de investimentos.
Então, vou me limitar ao meu ponto de vista para responder a essa pergunta. A partir da resposta, você pode decidir se deve comprar criptomoedas ou não.
Afinal, criptomoedas são ou não uma boa escolha?
Na minha visão e, depois, de muita análise sobre esse ponto, a resposta é não, principalmente se você estiver falando de Bitcoin.
Essa é uma criptomoeda que, para mim, tem todas as características de uma grande bolha financeira.
Se você não sabe o que significa “bolha financeira”, eu te explico.
É um termo empregado aos ativos, ou a uma classe de ativos, que adquire um preço totalmente incompatível com o seu valor intrínseco. Ou seja: o ativo passa a ser negociado a um preço muito superior ao seu preço justo.
Então, em dado momento, a bolha “estoura”, trazendo consigo grandes desvalorizações para esses ativos.
Em outras palavras, as pessoas que possuem esse ativo em carteira sofrem com uma grande perda em um espaço de tempo muito curto.
Bolhas existem há um bom tempo e sempre continuarão existindo. Afinal, elas estão muito mais ligadas à natureza humana do que a qualquer outra coisa, pois são causadas pela ganância, pela vontade de querer ganhar sempre mais.
É um assunto puramente relacionado à economia comportamental e eu até entendo se você discordar desse ponto de vista, ou questionar algo como:
“Mas Ramiro, essa tecnologia não é revolucionária?”
E aqui eu repito: o fato da tecnologia do blockchain ser revolucionária não significa que o preço de negociação de uma criptomoeda não esteja em um patamar totalmente artificial. Nem o fato de a demanda ser totalmente finita para cada tipo de criptomoeda impede isso.
Deixe eu te contar uma história para reforçar esse meu argumento.
Uma das bolhas mais famosas dos últimos tempos foi a “bolha ponto.com”, ou “dot.com bubble”, como é conhecida nos Estados Unidos.
No final dos anos 90, com o advento da internet, milhares de empresas de tecnologia abriram o capital na bolsa de valores norte-americana. E a maioria dessas empresas passou por um período de sucessivas altas e valorização muito forte.
Víamos empresas crescendo 100%, 200% ao ano sem gerar absolutamente 1 centavo de receita. Tudo, é claro, sob o argumento de que “a internet iria mudar o mundo”.
E, com o tempo, o mercado acabou percebendo que essas empresas da “bolha ponto.com” não valiam tanto quanto elas estavam sendo cotadas na NASDAQ. Assim, de um dia para o outro, a bolha estourou e todas as ações dessas empresas tiveram grande desvalorização.
E o que a gente enxerga hoje, cerca de 17 anos depois dessa bolha?
- Que a internet realmente mudou o mundo. (E eu não preciso nem entrar em detalhes quanto a isso, já que você está lendo este artigo graças a ela);
- Isso não evitou que os “investidores” que entraram naquela onda de “ganho fácil” não tenham perdido bilhões de dólares em aplicações financeiras.
Ou seja: aí temos um exemplo bem claro e recente de como o fato da tecnologia ser disruptiva não evita o fato de termos uma bolha financeira.
O Bitcoin e as principais características de uma bolha financeira
Quando eu digo que o Bitcoin tem todas as características de uma bolha financeira, não me refiro apenas à sua valorização extrema em um curto período de tempo. Afinal, isso por si só não quer dizer nada.
Meu argumento favorável ao fator “bolha do Bitcoin” se dá com base em três pontos:
Ponto 1: “Desta vez é diferente”
Como já comentei nos primeiros parágrafos, há algum tempo que tenho sido questionado pela audiência sobre as criptomoedas, mas em especial, os Bitcoins.
E quase todas as vezes que eu manifestei a minha posição contrária e cautelosa em relação à compra de Bitcoins, eu ouvi alguma frase parecida com essa:
“Ah, Ramiro, mas desta vez é diferente…”
E isso é até engraçado, porque existe uma máxima bastante famosa de um investidor chamado John Templeton, que diz justamente o seguinte:
“As 4 palavras mais caras do mundo são: desta vez é diferente”.
E isso significa, justamente, que a gente deveria aprender com casos que já ocorreram no passado. Mas parece que as pessoas insistem em persistir no erro…
A “bolha ponto.com” está aí para reforçar isso!
Ponto 2: Bolhas não podem ser observadas em tempo real
Se todo mundo achasse que o Bitcoin fosse uma bolha, sua cotação não teria subido tanto. O que isso quer dizer?
Que enquanto uma bolha não estoura, sempre há muitas pessoas negando que há, de fato, uma bolha. Veja o caso da subprime, em 2008, que foi muito bem retratada no filme “A Grande Aposta”.
Até um ano antes, o então presidente do banco central norte-americano, Alan Greenspan, e o seu sucessor, Ben Bernanke, seguidamente davam entrevistas negando o fato de que havia uma bolha no mercado de crédito imobiliário à época.
Portanto, de certa forma, o fato de ter muita gente negando que há uma bolha nesse mercado é mais um indício de que pode haver mais uma bolha crescendo.
Ponto 3: Apesar do argumento, (quase) ninguém usa o Bitcoin como reserva de valor ou meio de pagamento
Alguns dizem que o Bitcoin é uma excelente reserva de valor. E eu mostrei aqui que é verdade. O Bitcoin, assim como outras criptomoedas, pode ser, sim, uma excelente reserva de valor.
Outros dizem que um dia será um meio de pagamento amplamente aceito. E eu também não nego isso. Afinal, empresas como a Foxbit já facilitam a conversão de Bitcoins para moedas como forma de pagamento.
Entretanto, a verdade é esta:
A maioria das pessoas está utilizando essa criptomoeda como um ativo especulativo, comprando simplesmente porque acham que conseguirão vender a um preço ainda maior daqui a algum tempo.
Como é uma moeda sem lastro e, ainda, sem uma aceitação global como meio de pagamento, é difícil de dizer se ela possui um valor intrínseco por trás da alta cotação e, se sim, que valor intrínseco é esse.
Portanto, não se engane: quando o valor por trás do ativo é deixado de lado e tudo o que se fala é “quem comprar, vai ganhar”, desconfie: é mais um forte sinal de uma bolha prestes a estourar.
Conclusão: fugir ou agarrar as criptomoedas?
Não estou aqui para me posicionar como o dono da verdade. Com este artigo, quis mostrar para você os meus argumentos, os quais justificam meu posicionamento em relação às criptomoedas e, em especial, ao Bitcoin.
E independentemente do fato de você concordar ou não com eles, reforço meu posicionamento:
Tenha muito cuidado ao considerar adquirir qualquer criptomoeda.
Lembre-se sempre que elas são veículos de especulação financeira, e não de investimento, e o seu sucesso como investidor estará amplamente ligado ao fato de você preservar o seu capital em boas opções de investimentos.
Se você gostou desse conteúdo, não deixe de compartilhá-lo com o máximo de pessoas que puder, ajudando mais e mais investidores a entenderem o que são e como funcionam as criptomoedas.
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Ramiro Gomes Ferreira
Ramiro é fundador do Clube do Valor, especialista em investimentos e possui ampla experiência em gestão e análise de valores mobiliários.
As opiniões expostas neste artigo são baseadas na visão do autor e não necessariamente refletem o entendimento do Yubb.