Se você acompanha o noticiário econômico, possivelmente já ouviu bastante a palavra “estagflação” nos últimos tempos. E não é para menos; esse é um fenômeno extremamente preocupante para a economia de um país.

A estagflação não afeta somente as finanças pessoais, mas também compromete o crescimento econômico de forma geral. Isso porque os seus efeitos costumam ser sentidos por muito tempo pela população.

A seguir, entenda o que é esse fenômeno, como ele surge e quais os riscos para a economia e para as suas finanças.

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Afinal, o que é estagflação?

A palavra, por si só, já dá a entender o seu significado. Estagflação vem da junção de “estagnação” e “inflação”, e caracteriza o momento da economia no qual a alta dos preços vem acompanhada de desemprego e da queda da atividade econômica.

Quem falou sobre estagflação pela primeira vez foi o político britânico Ian Macleod, em 1965. Na ocasião, ele utilizou o termo para se referir ao cenário econômico preocupante do Reino Unido na época. Mas foi nos anos 70 que a palavra ganhou notoriedade no mundo inteiro, durante a primeira crise global do petróleo.

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A combinação dessas três variáveis – inflação alta, desaquecimento da economia e retração da atividade econômica – não só é extremamente preocupante, quanto muito difícil de resolver. Isso porque, para conter a estagflação, os governos precisam atuar em diferentes frentes ao mesmo tempo.

Por exemplo, quando precisa conter a inflação, uma das principais armas dos bancos centrais é aumentar a taxa de juros. Porém, se o governo faz isso em um momento de atividade desaquecida, a retomada econômica pode demorar ainda mais para acontecer.

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Por outro lado, se o governo adotar políticas de geração de empregos e incentivo à economia, os preços poderão subir ainda mais. Situação difícil, não é mesmo?

Por que ocorre estagflação?

Normalmente, o fenômeno não tem uma causa única, mas sim é gerado por uma combinação complexa de fatores. Entre eles destacamos eventos difíceis de serem previstos e erros na formulação de políticas monetárias e econômicas.

Quanto aos eventos imprevistos, eles podem se referir tanto a acontecimentos internacionais quanto exclusivos do cenário doméstico. No primeiro caso, dois bons exemplos atuais são a pandemia e a guerra entre Rússia e Ucrânia. Fatos imprevistos e incontroláveis como esses desencadeia o que os economistas chamam de choque de oferta, ou seja, uma alteração no fornecimento de bens e serviços em todo o mundo.

Um choque de oferta sempre provoca mudanças nos preços, para cima ou para baixo. No caso de guerras e calamidades, a escassez de bens e serviços faz com que os preços subam, e é exatamente isso o que vemos hoje.

Em relação ao cenário interno, também temos um bom exemplo. Recentemente, tivemos a pior seca dos últimos 90 anos, que aumentou o preço da energia elétrica em todo o país. E engana-se quem pensa que só a conta de luz é que fica mais cara nessas horas. Toda a cadeia produtiva depende de energia elétrica para funcionar. Logo, nós sentimos esse aumento também em diversos produtos e serviços que consumimos diariamente.

Por fim, quando nos referimos a decisões econômicas equivocadas, a injeção excessiva de dinheiro na economia também causa desequilíbrios. Durante o pior período da pandemia, por exemplo, muitos países fizeram circular mais dinheiro para aquecer as suas economias. Segundo especialistas, isso também contribuiu para o aumento da inflação em alguns países.

Em que momentos ocorreu estagflação no mundo?

Há diversos exemplos de estagflação na história da economia mundial. Inclusive, alguns deles aconteceram mesmo antes de a palavra ser utilizada. Confira alguns dos mais emblemáticos a seguir.

Alemanha no pós Primeira Guerra Mundial

Depois que a Primeira Guerra Mundial terminou, a economia alemã estava praticamente destruída. Dessa forma, o país passou por uma fortíssima recessão, que se transformou em estagflação.

Um dos motivos da ruína financeira alemã foram os gastos do governo no financiamento da guerra. Além de queimar as reservas públicas, o país contraiu dívidas para bancar a estrutura bélica.

Mas os graves problemas não pararam por aí. Mesmo com a economia arrasada, a Alemanha foi obrigada a indenizar os países aliados pelos prejuízos sofridos durante o conflito. Essa foi a gota d’agua para o país mergulhar em sua primeira grande crise econômica, que levou a população à pobreza extrema.

Reino Unido nos anos 1970

Entre 1971 e 1973, o Reino Unido recebeu enormes estímulos fiscais, que aumentaram em 25% o dinheiro em circulação na economia. Isso foi fruto da política expansionista de Anthony Barber, secretário do Tesouro na época.

O reflexo imediato desse incentivo acelerou a economia, mas gerou inflação. E o cenário foi agravado com os preços do petróleo, que aumentaram no mercado mundial em 1973. A combinação desses fatores gerou estagflação – aumento dos preços e do desemprego e retração da economia.

Choque do petróleo nos EUA nos anos 1970

Em 1973, os países árabes suspenderam as exportações de petróleo para os EUA. Isso aconteceu por causa do apoio militar que os norte-americanos deram a Israel na época.

A falta de petróleo foi sentida no mercado mundial, e isso fez o preço da commodity disparar. Por sua vez, os EUA já enfrentavam desemprego e inflação na época. do apoio militar que o país deu a Israel na época.

A situação ficou pior quando o Fed começou a alternar políticas monetárias para tentar resolver os problemas do país. Isso gerou desconfiança no mercado internacional, e agravou a estagflação que já iniciava nos EUA.

Brasil nos anos 1980

Muitos economistas se referem a esse período como a “década perdida” para o Brasil e outros países da América Latina em termos de desenvolvimento. Na ocasião, o que existia por aqui era inflação alta, aumento da desigualdade social e baixo crescimento do PIB.

Para deixar a situação ainda pior, os juros subiram no mercado internacional. Isso acabou encarecendo a dívida externa brasileira e aumentou o rombo nos cofres públicos. A inflação só foi finalmente controlada com o Plano Real, em 1994, que conseguiu fazer a economia voltar a se desenvolver.

Deu para entender o que é e como acontece a estagflação? Se tiver dúvidas, deixe seus comentários abaixo!