Atualmente, a inflação é uma das maiores preocupações da economia e do mercado financeiro não só no Brasil, mas em vários outros países.
A busca por investimentos que protejam o patrimônio da desvalorização causada pela alta dos preços tem aumentado consideravelmente. Nesse contexto, será que as criptomoedas são uma boa opção para proteção contra a inflação?
Afinal, criptomoedas podem proteger contra a inflação?
Responder a essa pergunta não é algo tão simples. Em primeiro lugar, não se pode esquecer que os criptoativos são investimentos de altíssima volatilidade e, por isso, não são indicados para qualquer tipo de investidor. Logo, perfis conservadores devem procurar outras alternativas para se proteger da inflação, como o Tesouro IPCA+, por exemplo.
Outro fator importante a considerar é que existem diferenças entre as criptomoedas, e algumas dessas peculiaridades podem determinar se elas servem ou não para proteção contra a inflação.
A seguir, falaremos sobre três aspectos desses ativos que têm relação com a preservação de valor: a descorrelação com o mercado, a política de emissão e o coin burn. Continue a leitura e confira!
Descorrelação com o mercado
Dizer que um ativo é descorrelacionado do mercado significa que variáveis econômicas, como taxas de juros, níveis de emprego, inflação, entre outras, não causam efeitos em seu desempenho.
Ou seja, o fato de a economia ir bem ou mal, ou de os juros subirem ou caírem, nada disso influenciará um ativo descorrelacionado. É como se ele fosse blindado da economia tradicional, pois segue os seus próprios parâmetros.
Por serem um ativo não regulamentado por órgãos governamentais, as criptomoedas não estão sujeitas às mesmas variáveis que influenciam a economia tradicional. Logo, em períodos inflacionários, esses ativos podem perfeitamente apresentar fortes altas, e isso faz com que sejam uma boa opção para proteção contra a inflação.
Mas atenção: é importante que fique claro que as criptomoedas com essas características são aquelas descentralizadas e que não possuem lastro em moedas fiduciárias. Algumas stablecoins, por exemplo, têm como ativo-base moedas tradicionais. É o caso do Tether (USDT), por exemplo, teoricamente lastreado no dólar norte-americano.
As stablecoins, também chamadas “moedas estáveis”, são ativos digitais lastreado em algum ativo financeiro. Clique abaixo e entenda como funcionam.
No caso do Tether, apesar de ser uma criptomoeda, ela está diretamente relacionada à variação do dólar. Ou seja, se o dólar subir, ela tende a se valorizar, e vice-versa. Nesse caso, não há uma descorrelação perfeita do mercado, como acontece com o Bitcoin, Ethereum e outros criptoativos.
Controle de emissão
Em determinadas situações, para incentivar a economia, os governos aumentam a quantidade de dinheiro em circulação. Foi o que aconteceu em muitos países nos períodos mais críticos da pandemia, por exemplo.
No entanto, há um limite para que essa injeção de dinheiro no mercado não seja prejudicial. Caso contrário, se houver excesso de liquidez, isso provocará uma inflação acima da esperada.
Na economia tradicional, quem faz esse controle de dinheiro em circulação são os bancos centrais. No caso das criptomoedas, como não há uma entidade reguladora, esse controle é realizado de outras formas.
Algumas criptomoedas têm as suas quantidades de emissão predeterminadas. No whitepaper do Bitcoin, por exemplo, foi estabelecido que o seu limite de emissão seria de 21 milhões de unidades. Isso mantém a escassez do ativo na rede, o que ajuda a preservar o seu valor.
Logicamente, isso não é garantia de que o Bitcoin continuará se valorizando. Como vimos, os criptoativos são extremamente voláteis e, como não estão atrelados à economia tradicional, não há como saber o seu potencial de valorização e nem se serão perenes. Nesse caso, estamos nos referindo apenas à garantia de escassez.
Lembrando que nem todas as criptomoedas possuem uma política de limitação de emissão. Isso significa que algumas não são deflacionárias, o que pode ser um grande risco para o investidor. Por isso, antes de investir em criptoativos, é muito importante conhecer os seus fundamentos para saber como funcionam e o que se pode esperar do investimento.
Coin burn
Além da limitação de unidades emitidas, outro mecanismo que algumas criptomoedas adotam para garantir a escassez é o processo chamado coin burn
Traduzida literalmente, a expressão significa “queima de moedas”. Na prática, o coin burn que retira permanentemente de circulação uma parcela de determinada criptomoeda, para impedir que se desvalorize.
A forma como ocorre esse processo depende de cada criptomoeda. Geralmente, o procedimento é o seguinte: um determinado número de criptomoedas é mandado para um endereço no blockchain sem chaves privadas. Ou seja, uma vez enviadas a esse endereço, elas ficarão “perdidas” na rede e não poderão mais ser utilizadas.
Normalmente, ocorre coin burn após um ICO (oferta inicial de moedas). Nessa ocasião, se as criptomoedas não são todas vendidas, as que sobram são destruídas. Isso ajuda a preservar o valor dos criptoativos que já estão nas mãos dos investidores.
A Binance, maior exchange de criptoativos do mundo, utiliza esse processo, realizando queimas periódicas por meio da função burn function dos contratos inteligentes.
Aqui novamente cabe uma observação: nem todas as criptomoedas possuem esse mecanismo de controle de circulação. Por isso, ressaltamos mais uma vez a importância de conhecer o funcionamento desses ativos antes de investir.
Conclusão
Os três aspectos das criptomoedas que vimos nesse conteúdo dizem respeito à relação das criptomoedas com a inflação. Quando esses ativos se mantêm independentes das oscilações da economia e quando a sua emissão e circulação é controlada, a sua escassez é preservada. Nessas condições, as criptomoedas podem sim ser uma boa alternativa contra a inflação.
Porém, cada vez mais há novas criptomoedas no mercado, sendo que muitas delas não possuem fundamentos consistentes. Por isso, reforçamos novamente a necessidade de conhecer as peculiaridades desses ativos antes de fazer qualquer investimento.
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