Recentemente, o mundo dos criptoativos sofreu mais um forte solavanco. E, dessa vez, foi por conta de uma stablecoin, categoria criada justamente para atenuar a volatilidade das criptomoedas.

Leia também: Stablecoins: o que são e como funcionam? – Artigos – Yubb

Na primeira quinzena de maio, algumas stablecoins – entre elas Tether e USDC – perderam a indexação ao dólar. De acordo com dados da CoinMarketCap, as principais moedas estáveis oscilaram entre 0,95 e 1,02 dólar no período, após manter indexação dentro de um centavo.

Mas essa não foi a primeira vez que esses ativos passaram por crises. Dados da CoinMarketCap apontam que, nos últimos anos, tanto Tether quanto USDC oscilaram em alguns momentos, eventualmente subindo para 1,01 dólar em 2021 e caindo para cerca de 0,97 dólar em 2020.

Leia também: Conheça as 7 maiores criptomoedas do mercado (yubb.com.br)

O que está acontecendo com as stablecoins?

Em entrevista a Reuters, Hagen Rooke, sócio de regulação financeira do escritório de advocacia Reed Smith, falou sobre a pouca regulação das stablecoins.

“Do jeito que as coisas estão, as stablecoins são muito pouco reguladas, o que é estranho, porque se você quebrar a forma como uma stablecoin centralizada funciona, é basicamente o mesmo que um depósito bancário”, disse Rooke ao portal.

De acordo com pesquisa da exchange Kraken, os problemas da Terra USD contribuíram para uma queda nos mercados de criptomoedas. Nesse sentido, mais de 357 bilhões de dólares (ou 21,7% da capitalização de mercado de ativos digitais) foram eliminados, segundo estudo.

Outro levantamento da CoinMarketCap apontou que o valor de mercado do Tether caiu de 83 bilhões para 75,6 bilhões de dólares no início de maio, antes da dissociação do dólar. Enquanto isso, o valor do USDC subiu de 48 bilhões para 51 bilhões de dólares.

“Há mais confiança no USDC por causa das instituições que mantêm reservas nessa cripto, como a BlackRock, por exemplo”, disse Marcus Sotiriou, analista da corretora de ativos digitais GlobalBlock, do Reino Unido.

Leia também:

6 dicas para você começar a investir em criptomoedas (yubb.com.br)

Fundos de criptomoedas: vale a pena investir? (yubb.com.br)

Mas se o objetivo das stablecoins é atenuar a volatilidade do mercado cripto, por que essa crise?

A maioria das stablecoins são atreladas a moedas fortes – como o dólar – ou a ativos financeiros – como o ouro, ou outro tipo de commodity. Essas moedas digitais auxiliam os investidores a facilitar transações, como o envio de recursos ao exterior, por exemplo. Por meio de stablecoins, é mais fácil mandar ou receber dinheiro de fora do que utilizar uma instituição financeira tradicional para isso.

De acordo com o Fed (banco central dos EUA), o valor de mercado de todas as stablecoins cresceu para US$ 180 bilhões em março de 2022. No entanto, é importante entender que nem todas as stablecoins são de fato estáveis.

Ou seja, assim como existem moedas estáveis com paridade 1:1 com moedas fortes ou ativos financeiros, outras não contam com o lastro de ativos reais. Estamos falando de uma categoria dentro das stablecoins, chamada algorítmica, que mantém o seu valor por meio de uma engenharia financeira complexa.

Como as stablecoins algorítmicas não possuem lastro em ativos reais, a sua queda costuma ser bem mais acentuada em relação a outras moedas estáveis. Inclusive, alguns especialistas e observadores do mundo cripto chamam essas quedas de “espiral da morte”.

O caso LUNA

Segundo Charles Cascarilla, executivo-chefe e cofundador da Paxos, empresa de infraestrutura blockchain, as stablecoins algorítmicas são uma forma diferente de dizer: “Vamos dizer que isso vale um dólar, porque tem lastro em outro ativo que também criamos do nada”.

Em relação ao TerraUSD, esse outro ativo “criado do nada” é o token LUNA.

Teoricamente, um investidor pode trocar um USD por um dólar de seu token irmão LUNA, que não tem um preço fixo. Dessa forma, pessoas que desejam arbitrar para ter lucro rápido criam um incentivo para manter o USD estável em um dólar. Em outras palavras, é mais ou menos assim: se o USD cai abaixo de um dólar, quem quer arbitrar compra USD mais barato e troca por um dólar em LUNA. Isso acaba criando um ecossistema que faz trocas de LUNA e USD para manter a Terra em um dólar.

No entanto, a fragilidade de um ecossistema desse tipo é justamente o fato de ele depender de traders que precisam acreditar no valor da LUNA. Assim, se os investidores perderem a fé nesse sistema, consequentemente ele perde a credibilidade e os investidores o abandonam.

Foi justamente isso o que escreveu o colunista da Bloomberg, Matt Levine. “Qualquer manhã, as pessoas podem acordar e dizer ‘espere aí: você acabou de inventar tudo isso, e é inútil’, e decidir se livrar de suas LUNAS e Terras”, disse.

E parece que foi isso o que aconteceu na crise recente da LUNA. Para Henry Elder, chefe de ativos descentralizados da Wave Financial, gestora de ativos digitais, “essa é exatamente a ‘espiral da morte’ que muitas pessoas previam.

No link abaixo, o Bernardo explica detalhadamente o que aconteceu com a LUNA, e fala sobre os cuidados que precisamos tomar com esse sistema. Clique abaixo e confira:

O caso LUNA pode acontecer com outras criptos? (yubb.com.br)

E agora? Qual o futuro das stablecoins?

Para especialistas que defendem as stablecoins, “não é hora de jogar o bebê fora junto com a água do banho”. Isso porque as moedas estáveis com lastro em dólar – como Tether e USDCoin – mantiveram-se estáveis mesmo durante o colapso da TerraUSD em maio.

No entanto, dias depois, a pressão também afetou o Tether, que é a maior stablecoin do mundo, com valor de mercado de US$ 80 bilhões. O diretor de tecnologia da Tether tentou tranquilizar o mercado, dizendo que a controladora da moeda estava honrando os resgates no nível de um dólar de forma fácil. Essa declaração foi dada também em maio de 2022.

Até mesmo o bitcoin sofreu com o clima ruim das stablecoins. Segundo especialistas, criptoativos ainda representam uma parte muito pequena dos ativos financeiros. Por isso, é preciso muita cautela, principalmente em momentos de crises e turbulências econômicas.

(Fontes: Reuters, Estadão, CNN Brasil)