Se você já investe na bolsa ou, ao menos conhece um pouco sobre, sabe que o índice Ibovespa oscila todos os dias. Ele pode tanto subir, quanto cair, tudo depende das ações que fazem parte da carteira teórica. Mas o que acontece quando o índice está despencando? Tudo continua normalmente? Uma medida adotada para conter as quedas bruscas da Bolsa é o circuit breaker e é sobre ele que vou te falar hoje.
A intenção deste post é que você entenda porque o circuit breaker é uma medida importante e quantas vezes ele aconteceu ao longo da história da Bolsa.
1. O que é circuit breaker?
A tradução de circuit breaker é disjuntor. Os disjuntores têm a função de impedir sobrecargas elétricas ou curtos-circuitos. Quando isso acontece, a energia elétrica é cortada.
Assim como o disjuntor, o circuit breaker é um mecanismo utilizado pelas bolsas do mundo em momentos de grande queda nos índices. Ou seja, o curto-circuito das operações é impedido com uma pausa.
No Brasil, o mecanismo é acionado quando a bolsa atinge 10% de queda. Todas as operações são interrompidas e nenhum ativo pode mais ser comprado ou vendido.
Existem três momentos em que a sessão pode ser interrompida:
– se o índice Ibovespa tiver uma queda de 10% (em comparação ao último fechamento), as operações param por 30 minutos;
– se após a primeira parada houver uma queda de até 15%, a sessão é interrompida por uma hora;
– se as operações voltarem após a segunda parada e houver um queda de 20%, a Bolsa suspende todas as negociações por tempo indeterminado (a B3 definirá quando a sessão será reaberta).
Lembrando que, as regras não se aplicam para os últimos 30 minutos de operações na bolsa. Ou seja, independente de quanto o índice estiver caindo, se faltar meia hora para a sessão terminar, o circuit breaker não é acionado.
O circuit breaker tem como principal função fazer o mercado “respirar”. A intenção é que, ao terminar os 30 minutos da primeira pausa, as operações de compra e venda retornem mais equilibradas e não seja necessário tomar outras medidas.
É um aviso da Bolsa para o investidor: “Pare um pouquinho para tomar uma água, pense melhor sobre suas ações e como proceder com as quedas. Depois desse tempo, você volta tendo mais clareza de qual será o próximo passo”.
Às vezes dá certo, e outras não. Separei um histórico de todos os circuit breakers para você ter uma ideia de como funciona e quanto tempo levou para a Bolsa se recuperar das fortes quedas causadas pelas crises.
Se você quiser ver esses dados apenas em números, dá uma olhada no nosso post do Instagram.
2. Histórico de circuit breakers
2.1. Crise asiática
A crise asiática começou com a desvalorização da moeda da Tailândia, que puxou um grande endividamento do país. Essa crise impactou outros países como Malásia, Filipinas e Coreia do Sul, até chegar na bolsa de Hong Kong.
Por ser um dos maiores mercados do mundo, a queda da bolsa de Hong Kong impactou as operações no Brasil e em todas bolsas do mundo. O ápice foi no dia 08 de julho de 1997.
As consequências disso? Pela primeira vez na história, o Ibovespa acionou o circuit breaker, não só uma, mas três vezes, em um espaço de 16 dias.
O índice teve uma queda de 42.90% e levou 2 anos, 4 meses e 22 dias para se recuperar.
2.2. Crise russa
Além de estar sentindo os efeito da crise asiática, a Rússia estava passando por endividamentos e uma inflação muito alta.
Quando o prejuízo do país atingiu o patamar de US$ 80 milhões, o governo pediu que os prazos para pagamento de suas dívidas externas fosse aumentado ou suspendido, pois não tinha condições de pagar.
A crise chegou a patamares alarmantes em 30 de julho de 1997, quando os mercados internacionais passaram a ser afetados pela crise russa. A bolsa brasileira novamente acionou o circuit breaker 5 vezes em menos de 30 dias.
Durante o período, o índice teve uma queda de 56.41%, levando 7 meses e 25 dias para retomar a pontuação anterior.
2.3. Câmbio flutuante
A implementação de política econômicas, nos anos 90, com a intenção de combater a inflação, uma delas sendo o câmbio flutuante, acabou gerando um efeito contrário no mercado.
A proposta era a de deixar as moedas estrangeiras se “auto-regularem” conforme a demanda do mercado. Mas o que aconteceu foi uma desvalorização da moeda brasileira e um colapso no mercado, que ainda carregava resquícios da crise russa.
Durante a crise do câmbio flutuante, a bolsa caiu 44.39%, os movimentos de queda começaram no dia 27 de novembro de 1998 e só pararam no dia 14 de janeiro de 1999.
A bolsa levou um pouco mais de 3 meses para voltar ao patamar anterior.
2.4. Ataque terrorista do dia 11 de setembro
Neste caso, o circuit breaker foi acionado, não por causa de quedas catastróficas no índice, mas sim por medidas de segurança.
Após o ataque às torres gêmeas no dia 11 de setembro, todas as bolsas do mundo entraram em comum acordo e suspenderam as negociações.
Nesse dia e durante o período que se sucedeu ao ataque, a bolsa teve um recuo de 12,73% e levou 1 mês e 25 dias para se recuperar.
2.5. Crise do subprime
A crise do subprime aconteceu no dia 15 de setembro de 2008. Para que você entenda o que causou essa crise, precisa entender antes o que é esse tal de subprime.
O subprime, falando de uma forma bem direta, são empréstimos para pessoas que possuem menos chances de quitar suas dívidas. Ou seja, a instituição que está emprestando dinheiro sabe que a probabilidade de a pessoa pagar é muito baixa.
No entanto, foi isso que os bancos dos EUA fizeram. Além disso, eles transformaram essas dívidas em investimentos.
Os investidores compravam um pacote chamado CDO (Collateralized debt obligation), que era uma obrigação de dívida com garantia. E deveriam receber os juros daquela dívida quando os devedores pagassem. Porém, isso nunca aconteceu.
Por isso, o banco Lehman Brothers, declarou falência no dia 15 de setembro de 2008, levando as bolsas do mundo todo ao caos, inclusive a bolsa brasileira, que ativou seis vezes o circuit breaker em um período de 22 dias.
Nesse período, o Ibovespa chegou a recuar 43.82% e levou 8 meses e 15 dias para voltar a pontuação de antes: 51.723,34.
2.6. Joesley Day
No dia 18 de maio de 2017, os áudios de uma conversa entre Joesley Batista, dono do grupo J&F, e o ex-presidente Michel Temer, vazaram. A conversa se referia o ex-deputado Eduardo Cunha e as medidas que eles deveriam tomar para que Cunha permanecesse em silêncio.
Neste dia, a bolsa chegou a cair 8.80%, uma das empresas que mais sofreu com a queda foi a Companhia Energética de Minas Gerais (CMIG4), que fechou o dia com 41% de recuo.
O Ibovespa levou 3 meses e 5 dias para voltar ao patamar de antes: 68.221,94 pontos.
2.7. Coronavírus
O alerta sobre o coronavírus foi acionado no dia 23 de janeiro de 2020. No dia seguinte, a Bolsa terminou a sessão com um recuo de 0,96%. Por cinco semanas consecutivas, o Índice fechou em queda.
Até que no dia 09 de março (segunda-feira), às 10h33, o primeiro circuit breaker do ano foi acionado. Após a parada o índice reduziu a velocidade das perdas, mas encerrou o dia com -12,17%, aos 88.239,38 pontos.
A razão para o recuo do dia 09 de março, não foi apenas o coronavírus, mas sim, a queda de mais de 30% no preço do petróleo, causada pelo desentendimento entre Rússia e Arábia Saudita.
No dia 10 de março, a Bolsa demonstrou sinais de melhora, impulsionada por notícias de estímulos na economia por parte dos EUA e Europa, para diminuir os impactos causados pelo coronavírus.
O Ibovespa teve sua maior alta dos últimos 11 anos, com um aumento de 7,14%, chegando aos 92.214,47 pontos.
Nos dois dias que se seguiram, as notícias não foram tão amigáveis.
Na quarta-feira (11) o circuit breaker foi acionado mais uma vez, após a OMS declarar que o coronavírus havia se tornado uma pandemia.
O Índice chegou a recuar 12,26% após às 16h00, mas recuperou quase 5% antes de o pregão fechar. Mesmo assim, fechou com uma queda de 7,64%.
E, na quinta-feira (12), o mecanismo precisou ser acionado não só uma, mas duas vezes! Um às 10h20 e outro às 10h52. Uma das principais notícias que impactaram as bolsas do mundo todo, foi Donald Trump anunciar que os voos entre EUA e a Europa estão, até segunda ordem, cancelados.
Além disso, no Brasil, o congresso derrubou o veto de Bolsonaro ao projeto de Lei 3055/97. Uma decisão, que segundo o governo, irá ter um impacto de R$ 217 bilhões em 10 anos. (fonte: infomoney)
A bolsa fechou no dia com um recuo de 14,78%.
Desde o dia 23 de janeiro, o Ibovespa acumulou 39,33% de queda (até a data de hoje 12/03/20).
Na imagem abaixo, fizemos um panorama dos últimos circuit breakers, para você ter uma noção de como funciona a recuperação do mercado:
Será que teremos mais circuit breakers pela frente? Quanto tempo a Bolsa irá demorar para se recuperar dessa crise? Ficaremos atentos aos próximos episódios!
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